29 julho 2009

galanteadores

Acho um barato a letra desse samba.
Lembrou-me um senhorzinho galanteador que conheci há dois dias atrás.
Sorte nossa que a Marisa Monte, Arnaldo Antunes e o Cézar Mendes conseguem colocar em palavras o que a gente geralmente sente aquecer a carne..

Eu só não te convido pra dançar, porque quero falar com você em particular.
Há tempos tento encontrar um bom momento, alguma ocasião propícia, pra que eu possa tocar suas mãos e olhar nos olhos teus.

Seria bom quatro paredes, eu, você e Deus.
Procuro explicar meus sentimentos, só consigo encontrar palavras que não existem no dicionário.

Você podia entender meu vocabulário, decifrar meus sinais, seria bom.

(Quatro paredes)

24 julho 2009

meu queixo e meus pés



Nadando nas piscinas do São Carlos Clube eu não me contentava em só explorar os fundos da piscina e sentir a respiração ficar diferente depois de muito tempo embaixo d’água. Na época eu tinha uns 9 anos de idade. Uma amiga e eu fomos para a piscina das crianças ultrapassar os limites da gravidade e tentar fazer bananeiras com as pernas no ar e a cabeça na água. Foi numa dessas tentativas que eu escorreguei e caí com o queixo no fundo da piscina com todo o peso do meu corpo em cima dele. O sangue começou a diluir no cloro da água e aí que fui perceber que havia alguma coisa errada. Enquanto esperava assustada a mãe da minha amiga me dar assistência, meu irmão chorava por mim do meu lado sentado no mesmo banco que eu. Isso foi no início do ano.
Depois de uns dois meses de iniciadas as aulas na escola, num final de semana ensolarado meu pai, inspirado pelo dia lindo que se abria lá fora, decidiu nos levar (meu irmão e eu) a um clube afastado da cidade, com campos abertos e quadras esportivas. Eu pensava que tinha talento pra tudo, mas esporte era uma coisa que me surpreendia sempre. Fui aprender a jogar futebol pra arrasar meu irmão no gol, mas na minha primeira lição - chutar a bola sentido ao gol - senti que uma parte do meu pé já não estava ligada ao resto do corpo. Eu trinquei o pé direito chutando a bola e o resultado disso foram 40 dias com ele engessado. Eu só pensava em como eu ia conseguir ensaiar para a apresentação do dia dos pais na escola. Dança já era pra mim uma coisa séria.
Novamente no mesmo ano, só que já no segundo semestre, fui tentar superar minhas dificuldades no esporte, porque não achava possível não conseguir competir nesse campo com meus amigos. Dessa vez, jogando basquete, miro o ponto do muro que havíamos definido para ser a cesta, dou um salto dos mais altos que já havia conseguido dar e quando volto ao chão, meu pé direito não reponde bem aos estímulos anatômicos e toca o chão não com a sola, mas com a parte lateral direita. Caio com o pé “dobrado” no chão. Tenho que agüentar a dor da queda e as gracinhas dos meus adversários por não perceber que estava numa posição desconcertante e minha calcinha estava aparecendo! Tinha 9 anos e acho que, naquele momento, comecei a alimentar a minha raiva pelo "sexo oposto". Por que eles simplesmente não me ajudaram?!?
No final do ano os médicos já colocavam em mim um colete protetor contra os raios X, tamanha havia sido a quantidade de vezes que tive que registrar fotos do interior dos meus ossos. Na escola era conhecida como a garota que se quebrava toda e desisti de superar limites com esporte. Decidi investir na dança.

15 julho 2009

apé

03 julho 2009

perda doída

Há dias estou ensaiando uma maneira de expressar uma perda doída que ocorreu na semana retrasada..Vamos ver se dessa vez eu consigo..

Lembro que me pediram pra pesquisar o significado do meu nome, sua história, seus porquês...esse som que se confunde com a idéia que faço de mim mesma.
Quando expus os resultados da pesquisa, vieram olhos borbulhando conexões, impressionados com a quantidade de gerações em que meu nome se repetia. Essa repetição poderia ser o foco do meu movimento que deveria se iniciar pela escápula e desenvolver-se em um caminho estreito, reto, “sem quebrar nenhum limite!”.
Depois de algumas horas, dias, tentativas, fui lá eu mostrar o que acreditava que poderia me representar em movimento. Eu podia usar a voz.
“Faça a sequência toda aí, onde você está.”
Pronto. Perdi minha liberdade de deslocamento. Estou de frente para o público, protegida apenas pela minha miopia.
“Fale mais vezes. Muitas mais!”
As repetições agonizavam. Queria fazer mais forte cada vez que repetia. E os olhares para traz, para todas as gerações que me acompanhavam se tornavam claramente presentes diante das minhas costas.
Pude gritar quantas vezes quisesse aqueles nomes que me queriam dizer quem era ou deveria ser.
Engraçado que justo antes daquele encontro eu havia decidido me priorizar.
A descoberta já foi dançada para uma platéia e pretendo que seja fruída por mais gente.
Sempre que a interpretar não vão ser mais apenas meus antepassados a me rodear. Ele também vai estar com aquela energia que me aquecia e me fazia acreditar enquanto indivíduo ativo.
Uma pessoa assim não dá pra esquecer. E não dá pra deixar de se aproximar.
Os discursos, as expressões, a nitidez em não hesitar em dizer sua opinião, de corrigir sem confrontar ou desprezar, de dizer que tudo precisa de um início e um fim sem que você consiga discordar e “tome decisões, feche o universo de movimento, que depois você vai ver que vai jogar muita coisa fora” e isso vale também pros meus textos.. Seus movimentos curtos e súbitos logo se tornavam leves e flutuantes na memória de quem o vivenciou.

Naquele encontro usei a voz, mas vou guardá-la nesses minutos em sua homenagem.
A roupa é elegante, porque esse prof era muito chique..

(homenagem a Roberto Pereira – foi crítico de dança do Jornal do Brasil, coordenador do curso de dança da UniverCidade, ex-professor da pós-graduação em dança na UCDB e pessoa graciosa que coordenou, junto com Esther Weitzman um curso especial de investigações coreográficas em abril deste ano. Se foi em 21 de junho de 2009.)