possibilidades narrativas

"A cultura (...) maneja símbolos capazes de encantar, humanizar e reconstituir possibilidades de vida"

(fragmento do texto-base da conferência nacional de cultura, em eixo sobre cultura e desenvolvimento sustentável em que coloca como íntima a relação que produções simbólicas e deshierarquização de valores mantêm com o pensar a segurança pública)

Ela

Nela tudo era curvo. Cabelo, corpo, imaginação. A única linha reta era a lágrima, que caía pesada dos seus olhos, quando se sentava em uma das quinas de sua cama, e lhe pesavam as esquinas que havia no mundo.

Não era o fato de haver esquinas que lhe pesava, mas de quererem dissimular a sua existência.

Estes eram momentos em que não se encaixava. Como se estivesse a seguir a visão diagonal, em que o vão era o principal caminho, e não os objetos que fingiam terminar, ou começar, no decorrer da linha.

O vão é permanente e os objetos desaparecem com a velocidade do olhar, como quando ficamos na frente do ventilador a distrair e as hélices se transformam em massa gosmenta.

(texto que escrevi em 2007. Encontrei agora nas arrumações dos arquivos do computador..)