22 março 2010

Out.ono

Não pude deixar de colocar aqui essas coincidências de sentido (na minha percepção coincidem) entre texto, imagem e a nova estação em que estamos entrando.
A foto é do Kenji Arimura, o primeiro texto é do Yan Chaparro, o segundo de Gabriel García Marquez, a conexão é minha.

"As folhas das arvores desenham no ar composições que me levam a pensar o que elas estão querendo dizer. Observo meus poros absorvendo algum sentido que chega pelo vento. Uma conversa inicia, estamos grudados em meio do mesmo mundo, não temos escapatória, somos dois, uno possível que transcende o insuportável. (...) Minha pele esta grudada ao que envolve, posso enxergar meu próprio sangue nas fissuras deste vento que chega". (publicado no blog entrecomum.blogspot.com)

"No dia em que o matariam (...) tinha sonhado que atravessava um bosque de grandes figueiras onde caía uma chuva branda, e por um instante foi feliz no sonho, mas ao acordar sentiu-se completamente salpicado de cagada de pássaros". (retirado de Crônica de uma morte anunciada)

12 março 2010

Let me sing you a waltz

Foto de Annie Leibovitz
A curiosidade é que foi tirada pouco antes de John ser assassinado, mas este fato chama muito menos a atenção que a sutileza de expressão de seu amor por ela, tão sutil que faz desabar qualquer tipo de proteção ou armadura. Como uma valsa que vai te tocando aos poucos, serena, e te envolve de tal forma que passos em sentidos opostos se transformam em rodopios pelo salão.
Combina com a música que acabei de ouvir e que coloquei aqui embaixo, trilha sonora do filme "Antes do pôr-do-sol", sequência do filme "Antes do amanhecer", ambos dirigidos por Richard Linklater, um lançado em 2004 e o outro em 1995. Tem simplicidade tocante parecida com a da foto.
Sugiro que ouçam experienciando a foto, que proporciona esse tempo lento de desfrutar uma coisa só que proporciona diversas sensações e pensamentos.

03 março 2010

palavra como isca

“Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa não-palavra – a entrelinha – morde a isca, alguma coisa se inscreveu. Uma vez que se pescou a entrelinha, poder-se-ia com alívio jogar a palavra fora. Mas aí cessa a analogia: a não-palavra, ao morder a isca, incorporou-a.”
(Clarice Lispector)