22 julho 2014
divórcio
"Quanto ao destino da potência de resistência, sua dissociação das sensações a impede de reconhecer aquilo que a convoca: a crueldade inerente à vida que destrói formas de existência a cada vez que isso se faz necessário. Assim, não tendo como situar a causa do mal-estar, a subjetividade é tomada pelo medo e o desamparo e, para aliviar-se, projeta no outro a crueldade da vida e a confunde com maldade. A força de resistência é então capturada pela forma dialética, e passa a exercer-se como luta entre opostos: cada um reivindica para si o poder do bem e fixa o outro no lugar do mal, contra o qual deverá ser investida a força de resistência. Neste tipo de exercício da política, que se transforma em luta entre o bem e o mal, seja qual for o lado vencedor, o resultado é um só: quem vence é a força do conservadorismo, fruto do temor à crueldade; quem perde é a vida cujo fluxo fica travado, quando ela não é concreta e irreversivelmente interrompida pelo extermínio, em nome de uma configuração de mundo tomada como a verdade, configuração que, por supô- la verdadeira, se quer conservar. É o mundo do consenso – mundo fusional sem alteridade, sem resistência, sem criação: em suma, sem vida – cuja forma paroxística é o totalitarismo, seja ele de Estado ou de Mercado."
(resistência e criação: um triste divórcio. Suely Rolnik, p. 2 >>>>>http://www.pucsp.br/nucleodesubjetividade/Textos/SUELY/Divorcio.pdf)
Assinar:
Postagens (Atom)