09 setembro 2015
Depois de cinco goles de cerveja preta, que achou que tinha combinado
bem com a noite enevoada, pouco fria. Depois da desistência do samba e
de uma viagem entediada de ônibus, percebeu que era só isso mesmo:
quando não tinha problema os inventava. Por isso o punho vermelho,
sangue retesado, marcas do não do pai. Por isso a tentativa de socá-lo
feito briga de galo. Era porque o feriado tinha sido muito bom junto
deles. Os dois, a mãe também, beliscos na bochecha. Mas, alto lá, que em
segundos eles poderiam definir todos os sentidos daquele fim de tarde
no prédio panorâmico cinco estrelas da prima rica, onde sobrava tudo
menos senso. De medo, soprou maldito espanto. Exclamações em vez de
vírgulas. Sangue, em vez de saliva.
22 julho 2014
divórcio
"Quanto ao destino da potência de resistência, sua dissociação das sensações a impede de reconhecer aquilo que a convoca: a crueldade inerente à vida que destrói formas de existência a cada vez que isso se faz necessário. Assim, não tendo como situar a causa do mal-estar, a subjetividade é tomada pelo medo e o desamparo e, para aliviar-se, projeta no outro a crueldade da vida e a confunde com maldade. A força de resistência é então capturada pela forma dialética, e passa a exercer-se como luta entre opostos: cada um reivindica para si o poder do bem e fixa o outro no lugar do mal, contra o qual deverá ser investida a força de resistência. Neste tipo de exercício da política, que se transforma em luta entre o bem e o mal, seja qual for o lado vencedor, o resultado é um só: quem vence é a força do conservadorismo, fruto do temor à crueldade; quem perde é a vida cujo fluxo fica travado, quando ela não é concreta e irreversivelmente interrompida pelo extermínio, em nome de uma configuração de mundo tomada como a verdade, configuração que, por supô- la verdadeira, se quer conservar. É o mundo do consenso – mundo fusional sem alteridade, sem resistência, sem criação: em suma, sem vida – cuja forma paroxística é o totalitarismo, seja ele de Estado ou de Mercado."
(resistência e criação: um triste divórcio. Suely Rolnik, p. 2 >>>>>http://www.pucsp.br/nucleodesubjetividade/Textos/SUELY/Divorcio.pdf)
09 junho 2014
05 maio 2014
"(...) A dança recolhe os fragmentos caóticos do cosmo e do corpo e dá-lhes um sentido originário imanente à própria dança, que, produzindo este sentido, o fará ser rememoriado pelo mito, se concordarmos com Fernand Robert em La Réligion Grecque, que afirma os mitos serem enredos gerados após as ritualizações, às quais se adequam, para fornecer uma narrativa àquilo que já se praticava."
(Breve história do corpo e de seus monstros - Ieda Tucherman, p. 29)
24 abril 2014
De tudo fica um pouco
o que fica?
fica eu mesma com as questões que achei que o outro, que chamei de amor e que, por muito tempo, começou a ser uma extensão da minha consciência narcisa, minha prótese, fosse resolver para mim.
já faz um tempo que não consigo superar as "simbioses" e "máquinas celibatárias", meus esconderijos.
"o que é uma mulher? Juro que não sei. E duvido que vocês saibam. Duvido que alguém possa saber, enquanto ela não se expressar em todas as artes e profissões abertas às capacidades humanas. E de fato, essa é uma das razões pela quais estou aqui, em respeito a vocês, que estão nos mostrando com suas experiências o que é uma mulher, que estão nos dando, com seus fracassos e sucessos, essa informação da maior importância." (WOOLF, 1931)
fica eu mesma com as questões que achei que o outro, que chamei de amor e que, por muito tempo, começou a ser uma extensão da minha consciência narcisa, minha prótese, fosse resolver para mim.
já faz um tempo que não consigo superar as "simbioses" e "máquinas celibatárias", meus esconderijos.
"o que é uma mulher? Juro que não sei. E duvido que vocês saibam. Duvido que alguém possa saber, enquanto ela não se expressar em todas as artes e profissões abertas às capacidades humanas. E de fato, essa é uma das razões pela quais estou aqui, em respeito a vocês, que estão nos mostrando com suas experiências o que é uma mulher, que estão nos dando, com seus fracassos e sucessos, essa informação da maior importância." (WOOLF, 1931)
20 abril 2014
uma arte
"A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
— Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério."
(Elisabeth Bishop)
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
— Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério."
(Elisabeth Bishop)
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