01 fevereiro 2010

Ela

Nela tudo era curvo. Cabelo, corpo, imaginação. A única linha reta era a lágrima, que caía pesada dos seus olhos, quando se sentava em uma das quinas de sua cama, e lhe pesavam as esquinas que havia no mundo.
Não era o fato de haver esquinas que lhe pesava, mas de quererem dissimular a sua existência.
Estes eram momentos em que não se encaixava. Como se estivesse a seguir a visão diagonal, em que o vão era o principal caminho, e não os objetos que fingiam terminar, ou começar, no decorrer da linha.
O vão é permanente e os objetos desaparecem com a velocidade do olhar, como quando ficamos na frente do ventilador a distrair e as hélices se transformam em massa gosmenta.

(texto que escrevi em 2007. Encontrei agora nas arrumações dos arquivos do computador..)

Um comentário:

  1. Gostei deste "Ela". Revela o cuidado, o garimpo e a lapidação. Escrever é um ato sagrado, como disse o texto da Clarice Lispector citado por você logo acima. Algo como "pescar a entrelinha". Ou realçar a sinfonia do silêncio. Jornalistas nem sempre escrevem, porque encaram o ato como "se livrar da notícia", "descarregar o peso da obrigação", "desovar o presunto".
    Não deixe que isso aconteça ao seu texto. Procure a inspiração de Machado e Balzac, que faziam entre 10 e 15 rascunhos antes de aprovar um simples bilhete.
    Agora o chumbo trocado: meu blog é zecavianna.blogspot.com.
    Abs

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