26 setembro 2010

enxurrada

Água. Muita água jorrando, se esparramando e tomando conta dos tornozelos, joelhos, quadris, bocas. Isso no final, porque começou com cheiro de mofo, cadeiras de plástico que escorregavam no chão de azulejo, colocadas em frente a um palco marrom, de madeira arranhada. Muitos corpos ocuparam o opereto de maneira previsível, vestidos previsivelmente e aplaudidos como havia de ser. A beleza se vestiu com blusa e calças largas, sandálias e bolsa transpassada, era um homem comum novamente, previsivelmente seguro, de perto engordado, com algum problema por de dentro, um problema grave. Minha pergunta foi respondida sinceramente com os olhos, a boca sorriu ironicamente e, como de rigor, respondeu com língua afiada alguma barbárie. Retrucava indiretamente, mas dizia que tudo estava bem, como havia de ser. Depois das palavras o ruído vinha das águas jorrando, jorrando e tomando conta do lugar e dos meus dedos, dos meus olhos, da roupa dele e do mau-humor que o vinha constituindo. Água que era conseqüência, mas queria pressentir que, logo em seguida, provocaria outra enxurrada de barbáries ambíguas, paralisantes.

2 comentários:

  1. Nossa, que forte!!
    E sempre me impressiono como você escreve bem!!
    Adoro te ler. É um alimento pra mim!
    Beijos...

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  2. Brigadão, Sil!
    Gosto muito de acompanhar teu blog também.
    Esse é um dos sonhos que tenho.. o crédito é dele.. hehe
    um beijo!

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