Semana passada, já incomodada com a sensação de que aqui em São Paulo a tolerância de ouvir é incrivelmente mais baixa que a necessidade de expressar, entrei no elevador e tive o seguinte diálogo com uma senhora que entrou depois de mim reclamando:
- Que calor!
- É, e aqui a gente nem percebe, mas anda pra caramba.
- Nossa, muito calor.
Cidade de especialistas em produzir, a gente (em muitas situações já me sinto contaminada) não ouve o que não quer ouvir. A moldura parece mordaça só que nos próprios ouvidos e nas bocas do outro, alguém.
É cansativo se relacionar com tanta gente o tempo todo. O corpo acaba tendo que selecionar mais pra sobreviver. Tem tanta coisa ruim misturada às coisas boas, e os processamentos são demorados, demora por vezes dias pra digerir que o policial na rua quase mirou seu rosto ao desarmar o bandido da moto ao lado da calçada. Estou começando a entender os fones de ouvido, o gesto blazé, o distanciamento como se fôssemos ilhas. Continuo preferindo pensar nas ilhas pelo ponto de vista do mar.
"(...)Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso (...)
ResponderExcluirDo povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços(...)
Lembrei desse trecho de Sampa.
São Paulo é assim. A cidade das contradições. Tão parecida com essa raça chamada humana.
Um beijo e força aí!