06 dezembro 2013
08 novembro 2013
como é fácil se equivocar e chamar de sagacidade suspeitas sobre o sentido que o outro dá às coisas... ações são sempre pontinhas de iceberg de subjetividades que cada um traz à visibilidade do jeito que lhe é possível ou oportuno... suspeitas são suspeitas e sagacidade é conseguir perguntar ao outro se fazem sentido as elocubrações. o resto é delírio, que pode ou não servir ao deleite.
14 julho 2013
impermanências
“Quando
um fio da vida é atravessado pelo
fio de metal e nele se perde,
a temperatura mingua
E mingua também a sede e a dor
O movimento é só tremor
A emoção não se representa
Nada pode ser sentido
O tempo então perde a sua duração
Não corre
Não flui
Não passa mais
Viscoso e profundo como um beijo
na boca de quem já morreu”
Christine Greiner
fio de metal e nele se perde,
a temperatura mingua
E mingua também a sede e a dor
O movimento é só tremor
A emoção não se representa
Nada pode ser sentido
O tempo então perde a sua duração
Não corre
Não flui
Não passa mais
Viscoso e profundo como um beijo
na boca de quem já morreu”
Christine Greiner
11 maio 2013
se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida
(...)
Perdi
alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária,
assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me
impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira
perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que
nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso
caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela
que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me
procurar.
Estou
desorganizada porque perdi o que não precisava? Nesta minha nova covardia – a
covardia é um campo tão amplo que só a grande coragem me leva a aceitá-la –, na
minha nova covardia, que é como acordar de manhã na casa de um estrangeiro, não
sei se terei coragem de simplesmente ir. É difícil perder-se. É tão difícil que
provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja
de novo a mentira de que vivo. Até agora achar-me era já ter uma ideia de
pessoa e nela me engastar: nessa pessoa organizada eu me encarnava e nem mesmo
sentia o grande esforço de construção que era viver. A ideia que eu fazia de
pessoa vinha de minha terceira perna, daquela que me plantava no chão. Mas e
agora? Estarei mais livre?
Não.
Sei que ainda não estou sentindo livremente, que de novo penso porque tenho por
objetivo achar – e que por segurança chamarei de achar o momento em que
encontrar um meio de saída. Por que não tenho coragem de apenas achar um meio de
entrada? Oh, sei que entrei, sim. Mas assustei-me porque não sei para onde dá
essa entrada. E nunca antes eu me havia deixado levar, a menos que soubesse
para o quê.
Ontem
no entanto perdi durante horas e horas a minha montagem humana. Se tiver
coragem, eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho
medo de viver o que não entendo – quero sempre ter garantia de pelo menos estar
pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação. Como é que se
explica que meu maior medo seja exatamente em relação: a ser? e no entanto não
há outro caminho. Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir
vivendo o que for sendo? Como é o que eu pensava e sim outra – como se antes eu
tivesse sabido o que era! Por que é que ver é uma tal desorganização?
E
uma desilusão. Mas desilusão de quê? se, sem ao menos sentir, eu mal devia
estar tolerando minha organização apenas construída? Talvez desilusão seja o
medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto se deveria dizer assim: ele
está muito feliz porque finalmente foi desiludido. O que eu era antes não me
era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança.
De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro. O medo agora é que meu novo
modo não faça sentido? Mas por que não me deixo guiar pelo que for acontecendo?
Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela
probabilidade.
(...)
A paixão segundo G.H.
Clarice Lispector
p.12
Assinar:
Postagens (Atom)