13 fevereiro 2012

a origem vertiginosa

Nossa literatura, articulando-se com o Barroco, não teve infância (in-fans, o que não fala). Não teve origem ‘simples’. Nunca foi in-forme. Já ‘nasceu’ adulta, formada, no plano dos valores estéticos, falando o código mais elaborado da época. Nele, no movimento de seus ‘signos em rotação’, inscreveu-se desde logo, singularizando-se como ‘diferença’. O movimento da diferença (Derrida) produz-se desde sempre: não depende da ‘encarnação’ datada de um LOGOS auroral, que decida da questão da origem como um sol num sistema heliocêntrico. Assim, também a maturidade formal (e crítica) da contribuição gregoriana para a nossa literatura não fica na dependência do ciclo sazonal cronologicamente proposto pela Formação. Nossa ‘origem’ literária, portanto, não foi pontual, nem ‘simples’ (numa acepção organicista, genético-embrionária). Foi ‘vertiginosa’, para falar agora como Walter Benjamin, quando retoma a palavra Ursprung em seu sentido etimológico, que envolve a noção de ‘salto’, de ‘transformação’.”

O sequestro do Barroco na Formação da literatura brasileira: o caso Gregório de Matos
(Haroldo de Campos, 1986 - edição 2011, p. 67)

27 janeiro 2012

francisquito

É certo que tenho mania de traçar conexões entre qualquer coisa que me aconteça, mas tem momentos em que elas simplesmente aparecem.
Assim foi com o Francisquito, vendido na padaria Pan Frigo (sim, estou falando desde o Brasil, ni de la frontera son, hacen parte de una ciudad peculiar del pais, Cuiabá, por hacer parte hace muchos y muchos años de la historia de explotación de oro de los portugueses, paulistas y españoles que influenciaron, además de la cultura colonial, el idioma y la manera de ser). 
Presente da madrinha que pesou 222 gramas na mala, custou R$6,66 e vence no dia 02/02/2012.
Que seja boa sorte!



19 janeiro 2012

chama

Sim, sim, eu sempre estive certa.
Entrar nesse buraco da minha pele seria mesmo entrar em buraco sem fundo, sem fundo, com bifurcações e nenhum sentido, com sentido, mas nenhum que me sacia e que demanda sempre mais e mais atenção e nenhuma companhia além do meu próprio umbigo. Era isso, era esse o meu terror, o meu desejo, a minha lascívia. E agora que a ferida está aberta, e agora que o entorno está esvaziado do vazio de que eu preciso, minha pele está pronta pra virar fogo e se transformar em chamas.
Alguém me chama. Alguém me chama?

17 janeiro 2012

ao lote #1

Só a reconheço quando já me tomou conta. Órgãos quentes, corpo aberto para o que me engradece e o que me destroi. Fazer parte do processo seletivo de vocês me deixou nesse estado apaixonado, sensível, feliz por estar perto de pessoas colocando em prática ações e ética de relações em que eu acredito, me fez perceber como sendo conduzido dessa forma realmente o ambiente de trabalho fica mais prazeroso, mesmo esse sendo um ambiente em que a competição esteve presente, mas não prevaleceu.
Pena que toda a paixão virou gripe (!) e não consegui aproveitar o último dia de seleção. Parecia que não ia me aguentar em pé e, de fato, não me aguentei.
Uma pena não ter sido selecionada para os laboratórios, mas foi uma oportunidade pra acompanhar mais de perto o trabalho de vocês, por meio das "janelas", dos ensaios abertos, e de outras apresentações.
Parabéns à equipe e bom trabalho!

Luiza Rosa.

18 dezembro 2011

ela era cheia de vida

É muito bom estar perto de alguém feita de entusiasmo.
Ela transbordava vida, ria e cantava, e também brigava, porque ela era cheia de opinião, com algumas eu concordava. Ela sabia ler sinais da vida, na lista telefônica, na televisão, qualquer lugar era lugar para se encontrar com o seu Deus, que lhe sussurrava soluções para os contratempos do dia-a-dia. Ela era generosa, se deixava  sentir apaixonada por pequenas coisas, o que a fazia ficar bem pertinho de todo tipo de arte, do canto, da música, gostava de dizer que um dia eu ia escrever um livro. Ainda vou escrever, tia, e vou dedicá-lo a você.
Que bom que fui sobrinha-neta da minha tia Chiquinha. Desta tarde em diante não vou mais conseguir ouvir sua voz. Já estou com saudade, mas feliz por ter sido tocada pelo entusiasmo dela, que me incentivou a seguir tendo sonhos distantes, que ficavam cada vez mais próximos e se transformavam, viraram outros sonhos, e me mantém viva.

24 novembro 2011

travessias de um cartógrafo

"Mas, como um itinerário se torna um lugar vazio se ninguém anda por ele, proponho-me nestas páginas, descrever minha própria travessia, nada linear, povoada de não poucas dúvidas, ainda que secretamente guiada pelo convencimento de que a perda de certas seguranças era e continua a ser fundamental para que se possa ouvir o som das novas situações e dos novos problemas."

(Ofício de Cartógrafo, Martin-Barbero, 2004, p. 123)

23 setembro 2011