Faz bastante tempo que só escrevo em meus cadernos. A caneta e o lápis estavam fluindo mais com meus absurdos criativos desses últimos tempos. Mas só tentativas, possibilidades. O blog parecia oficial demais pra ousar deixar essas ideias flutuando por aí. Agora mais à vontade com esse novo "padrão de movimento" vou soltando aos poucos, não as mesmas palavras, mas definitivamente influenciada pelas experiências por que passei e que transformaram minha narrativa.
Depois do "me=morar" eu era ação pura, um puro extremamente fluido, cheio de elementos diferentes, me dissolvia nas coisas e pessoas. A intensidade de sinceridade com o que vivia em cena transbordaram pra vida cotidiana, fato que poderia ser catastrófico, mas só me fez conhecer limites entre loucura e sanidade. O instinto de vida e de morte ali bem próximos, como aquelas 24h de diferença separadas por um abismo de centímetros de espessura, na “linha da data” (do lado das ilhas Fiji).
Entre a precaução e a ousadia, para viver precisava esquecer. Mas no meio da noite do dia 28 de dezembro, comecei a lembrar de muita coisa, muita coisa que precisava ser lembrada sempre, por isso escrever. 6h vi a manhã nascer e saí pra caminhar, pensando que a vida começava a ganhar muito sentido. Às 9h, no centro da cidade vendo armações de óculos, me surpreendo ao sair da loja. No mesmo momento em que meu corpo adormecia na sensação de que “voltara a viver” e que havia um sentido pra isso, sou atendida por uma vendedora chamada “Vida”. Inacreditável e incompreensível!! Minha única prova é o cartão da loja, que ela me deu assinado com seu nome.
Work in progress, contato improvisação e sincronicidade começavam a fazer muito sentido também. (Jung que fazia anos tinha o livro em casa, mas não conseguia ler, devorei em algumas horas). Era isso: sou uma narrativa e sentidos se conectam, o que é imprevisível, incompreensível em alguns momentos, tamanhas as coincidências que fogem do meu controle. Pensava ter controle sobre essas incrementações na minha narrativa, mas it flow, and I was letting it flow.
No dia 31 arrumei meu quarto. Troquei e criei lugares, adquiri e joguei coisas fora. Depois de 6 anos dividindo o quarto com minha irmã que há 3 meses se casou, ainda não havia conseguido me desvencilhar daquela sensação de coisa compartilhada, quando a gente espera o outro dizer alguma coisa pra depois agir.
"Ou me ensina ou eu faço sem nenhuma orientação!", tive que dizer ao meu pai com a furadeira na mão..rs Enfim um reconhecimento de autonomia. Patriarcado se fazendo presente no cotidiano da minha família: pai que nunca deixara a filha menina furar paredes e lidar com pregos. Minutos depois meu banheiro também já era outro.
Com meu quarto arrumado, andei pela rodovia. Me senti preparada pra viajar. E viajei.
Vai, abandona a morte em vida em que hoje estás, no lugar onde essa angústia se desfaz e o veneno e a solidão mudam de cor, vai indo o amor...vai, recupera a paz perdida e as ilusões, não espera vir a vida as tuas mãos, faz em fera a flor ferida e vai lutar para o amor voltar...Vai, faz de um corpo de mulher estrada e sol, te faz amante, vai, teu peito errante acreditar que amanheceu...Vai, corpo inteiro mergulhar no teu amor e neste momento, o mundo inteiro vai ser teu... Taiguara
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