"Esse vento chamado Pina Bausch mudou a paisagem do mundo com uma dança que demonstrava que as histórias individuais são sempre compartilhadas. (...)
A brutalidade do estancamento de sua sabedoria nos deixa órfãos de uma leitura de mundo que nos devastava e, ao mesmo tempo, nos fortalecia. Precisamos agora aprender a viver com essa tristeza para, mais adiante, descobrir o que poderá dela brotar."
A frase de Helena Katz - retirada de crítica sobre a temporada da Thanztheater Wuppertal no Brasil (parte usada no título do post) - me chamou pra escrever sobre minha vivência de duas semanas atrás.
Eram dois táxis apertados de sul-mato-grossenses à caminho do Teatro Alfa (SP) por um mesmo motivo: Pina Bausch.
Pela primeira vez ia ver de perto o que era pra mim quase um mito, inalcançável, que só via em vídeos do youtube e ouvia pessoas retratarem a experiência do encontro (alguns eram autoridades no assunto dança) sempre com ótimas referências. Uma unanimidade.
Essa foi a palavra que definia o fato de o Teatro ficar lotado de pessoas que a admiravam durante os cinco dias de apresentação, com ingressos esgotados com alguns meses de antecipação (cerca de 10.000 pessoas). E unanimidade é algo dificil de alcançar quando se trata de dança contemporânea.
Quando "Café Muller" começou - acredito que a obra mais divulgada da Cia - não conseguia relaxar e fruir o momento, a minha relação com a obra que acontecia. Ficava atenta ao que ela representava pra mim, minhas referências anteriores, ao que li das críticas ao seu trabalho..até que por um momento eu esqueci! (e esquecer aqui, significa experienciar)
A personagem de sapatos vermelhos entrou no palco, em ritmo acelerado e leve e aquilo me despertou pro momento presente.
No intervalo me pousei intacta sobre a cadeira digerindo o que havia presenciado. A segunda apresentação teve sabores ainda da primeira e a confusão de aromas me deixou um pouco indigesta. Foram momentos em que pude sentir o quanto o espectador não é passivo >> criava sentidos a todo momento e eram movimentos vigorosos de buscar um entedimento em conexões com minhas experiências anteriores.
Ainda estou digerindo e dançando (nos ensaios) tudo o que vivi naquelas 3h.
Foi a primeira vez que a Cia fazia uma temporada sem sua diretora.
Pina Bausch não estava presente em vida, mas em obra.
Pra conferir a crítica na íntegra clique aqui.