23 janeiro 2010

experiência

"A única verdadeira tradição é recomeçar tudo a partir dos seus próprios recursos"
(Carolyn Brown)

entre a precaução e a ousadia


Faz bastante tempo que só escrevo em meus cadernos. A caneta e o lápis estavam fluindo mais com meus absurdos criativos desses últimos tempos. Mas só tentativas, possibilidades. O blog parecia oficial demais pra ousar deixar essas ideias flutuando por aí. Agora mais à vontade com esse novo "padrão de movimento" vou soltando aos poucos, não as mesmas palavras, mas definitivamente influenciada pelas experiências por que passei e que transformaram minha narrativa.
Depois do "me=morar" eu era ação pura, um puro extremamente fluido, cheio de elementos diferentes, me dissolvia nas coisas e pessoas. A intensidade de sinceridade com o que vivia em cena transbordaram pra vida cotidiana, fato que poderia ser catastrófico, mas só me fez conhecer limites entre loucura e sanidade. O instinto de vida e de morte ali bem próximos, como aquelas 24h de diferença separadas por um abismo de centímetros de espessura, na “linha da data” (do lado das ilhas Fiji).
Entre a precaução e a ousadia, para viver precisava esquecer. Mas no meio da noite do dia 28 de dezembro, comecei a lembrar de muita coisa, muita coisa que precisava ser lembrada sempre, por isso escrever. 6h vi a manhã nascer e saí pra caminhar, pensando que a vida começava a ganhar muito sentido. Às 9h, no centro da cidade vendo armações de óculos, me surpreendo ao sair da loja. No mesmo momento em que meu corpo adormecia na sensação de que “voltara a viver” e que havia um sentido pra isso, sou atendida por uma vendedora chamada “Vida”. Inacreditável e incompreensível!! Minha única prova é o cartão da loja, que ela me deu assinado com seu nome.
Work in progress, contato improvisação e sincronicidade começavam a fazer muito sentido também. (Jung que fazia anos tinha o livro em casa, mas não conseguia ler, devorei em algumas horas). Era isso: sou uma narrativa e sentidos se conectam, o que é imprevisível, incompreensível em alguns momentos, tamanhas as coincidências que fogem do meu controle. Pensava ter controle sobre essas incrementações na minha narrativa, mas it flow, and I was letting it flow.
No dia 31 arrumei meu quarto. Troquei e criei lugares, adquiri e joguei coisas fora. Depois de 6 anos dividindo o quarto com minha irmã que há 3 meses se casou, ainda não havia conseguido me desvencilhar daquela sensação de coisa compartilhada, quando a gente espera o outro dizer alguma coisa pra depois agir.
"Ou me ensina ou eu faço sem nenhuma orientação!", tive que dizer ao meu pai com a furadeira na mão..rs Enfim um reconhecimento de autonomia. Patriarcado se fazendo presente no cotidiano da minha família: pai que nunca deixara a filha menina furar paredes e lidar com pregos. Minutos depois meu banheiro também já era outro.
Com meu quarto arrumado, andei pela rodovia. Me senti preparada pra viajar. E viajei.

26 dezembro 2009

nascendo/pondo o sol


Composição inspirada por sujeito da terra do sol nascente de frondosas cerejeiras.
Neste caso, o sol está se pondo pra nascer novamente...e eu também.

22 novembro 2009

rosa corpo cacho

papel reciclado e caneta esferográfica azul

Saiu um pedaço de mim pouco antes da aula da pós em dança começar.
São traços que vêm me acompanhando há uns seis meses já.
"Fica atenta que ele pode dar em alguma coisa", disse a mim meu amigo Bruno.
Estou atenta, Bru! E já vem dando resultados..

16 novembro 2009

não só esquerda e direita



não sinto só esquerda e direita..
espaços se formam em cima e embaixo, frente e trás, longe e perto, diagonais..
relações de poder pulverizadas nas relações humanas com a atual configuração provocando germinações esquizoides..
depois da kinesfera de Laban (que se parece com o desenho de Da Vinci, mas o complementa), a tridimensionalidade trouxe à tona lentes multifocais que habitam percepções casuais da realidade..não à toa, vários espetáculos da bienal de dança de Santos tabalhavam com câmeras e projeções de visões diferentes de uma mesma realidade..
sem óculos enxergo quase nada..um nada preenchido de energia.

(faltam representações menos hegemônicas de kinesfera, quem sabe um corpo feminino também no centro..vou ter que produzir alguma, não consegui encontrar na internet)

04 novembro 2009

Pra lá e pra cá?


Dezembro nem chegou e eu já ganhei um baita presente de natal >> Valeu, Helton, por ter colocado meu filhinho na rede!!
"Pra lá e pra cá?" foi feito em parceria com a Isabela Souto, em 2007, como projeto de conclusão do curso de Jornalismo - UFMS. Um suor que valeu a pena. Foi quando tive a oportunidade de chegar bem pertinho do caos e sentir os calafrios criativos de uma criação narrativa em mosaico.
É o meu orgulho até hoje, porque uniu elementos que me movem: a significação a partir do corpo inseridas na cotidianidade em forma de produto que pode difundir esse jeito de se ver a realidade e promover discussões sobre representações que norteiam milhares de atitudes, maneiras de ser e sentir.
Esse filho já aprontou poucas e boas em ambientes educacionais (e também no processo de elaboração e reelaboração >> encontros, desencontros, histórias pra contar). Que venham mais discussões!
O "elenco" é composto por crianças e adolescentes na época estudantes da OSCIP de arte-transformação social Casa de Ensaio (www.casadeensaio.org.br) e por especialistas nos estudos de relações de gênero, propondo diálogos entre o discurso científico e cotidiano.
A orientação foi do paciente, experiente e articulador Edson Silva, com grande ajuda e incentivo da professora Márcia Gomes, que sempre me inspira com sua sede por pesquisas aprofundadas e valorização das narrativas ficcionais, que hibridizam realidade, pois que em constante ressignificação pelo público e autores >> sem contar a simpática Daniela Auad, que me acolheu em minhas idas a São Paulo e que me inspirou por sua obra "educar meninas e meninos: relações de gênero na escola", por tratar de um tema complexo em uma linguagem acessível, sem deixá-lo, por isso, mais simplista. [[[puxa, não dá pra não falar da Lenira Rengel, que provocou surtos criativos com suas elaborações de teorias do procedimento metafórico do corpo, que relaciona movimento com processos cognitivos; e a professora Ana Maria Gomes, antiga lutadora das causas feministas, que em suas aulas de movimentos sociais e relações de gênero deixava aquele gostinho de indignação, que movia para a ação a favor e em contra]]]
Comentem! Vamos criar um diálogo por aqui também sobre as milhares de questões que as relações de gênero nos incita a discutir.

sinopse:
Como seria se seu corpo fosse diferente de como ele é hoje?
"Pra lá e pra cá?" faz esta pergunta e caminha rumo às diferenças anatômicas dos sexos feminino e masculino e descobre que as diferenças vão além do corpo estritamente físico. A biologia dialoga com a cultura em um trânsito permanente. Feminino e masculino são realmente separados? É um pra lá e outro pra cá?
Assista ao vídeo e tire suas próprias conclusões.

A arte da capa é do Fred Hildebrand (ilustrador muito talentoso, criador do mangá Patre Primordium - www.patreprimordium.com - e que nasceu no mesmo dia e maternidade que eu!). A foto é do Tiago Jordão e a diagramação e design digital é da Vanessa Azevedo, ex-vizinha talentosa também e super calma (conseguia quebrar meu stress pré-banca examinadora), que agora mora em Buenos Aires.

Abaixo vai o vídeo, mas se quiserem vê-lo maior vejam pelo http://www.youtube.com/watch?v=OJxQ_M5VINY

26 outubro 2009

Entre a arte e a técnica, dançar é esquecer

Por Thereza Rocha

Suponhamos um término de namoro temperado pelas brigas, mágoas, choros e promessas de – Nunca mais! – de costume. Suponhamos que sigamos o pedido de Eliseth Cardoso na canção, riscando o nome do ser amado do caderno, não suportando mais o inferno daquele amor fracassado. Ao fim de um tempo, o ser outrora amado, será definitiva e resolutamente apagado da memória – quase um defunto. Meses se passarão até que um dia trilhemos um caminhar fresco e novo pela rua andando sobre os passos da vitória. O burburinho dos passantes nos anima, parece combinar com o fôlego renovado de quem triunfou em esquecer. Nesta caminhada campeã, página virada do tal caderno, assim como quem não quer nada, passamos desavisados em frente a uma loja de perfumes e eis que lá de dentro alguém que experimentava o perfume do ser, outrora amado, deixa escapar aquele aroma dos infernos porta afora. É um átimo de segundo para que a pessoa inteira se materialize à nossa frente: a textura da pele, o som da voz, nossa! – eis o fantasma do passado a nos assediar novamente! O corpo não esquece jamais.

Trata-se aqui de um exemplo quase tosco se comparado à beleza e à nobreza das madeleines de Marcel Proust. Mas estamos sim a falar da memória e das lembranças. E de como no corpo, a memória não conhece o passado. A memória só conhece o presente. Do ponto de vista da memória, é sempre hoje, sempre agora. Para uma necessária distinção, aquilo a que comumente chamamos de memórias, receptáculos de passado, serão aqui para nós, chamadas de lembranças. As lembranças são representações do passado; modos como guardamos o passado como tal, como algo que já passou, em um dispositivo a que chamaremos aqui de arquivo, distinto portanto da memória. Pois a memória, segundo nossa perspectiva, é no corpo um motor – um motor de presente – sempre pronta a atualizar a lembrança, tornando-a atual, fazendo dela uma outra, uma outra, uma outra e assim sucessivamente. A memória dá à vida sempre uma nova chance. Do ponto de vista da memória, o passado nunca passou; o passado está sempre a passar, a se modificar. O passado é matéria plástica.

Ao lado da memória voluntária, a que supomos controlar, existe uma outra, tal como nos sugere Proust: a memória involuntária, sempre conjugando dados e acaso, vários dados, de modo quase gratuito, à revelia de nossa vontade e de nosso controle, produzindo assim o tempo – tempo presente – da experiência – tempo sempre a devir. Memória que necessita, entretanto, e paradoxalmente do esquecimento para poder lembrar. O esquecimento como combustível de uma memória sempre a trabalhar. Se lembrássemos tudo, todo o tempo, não nos lembraríamos, na verdade, de nada. É necessário esquecer. É impossível esquecer.

Capítulo 4 do artigo "Entre a arte e a técnica. Dançar é esquecer" de Thereza Rocha, professora do curso de Dança da UniverCidade, doutoranda em artes cênicas na UniRio e professora do curso de pós-gradação em dança da Universidade Católica Dom Bosco.

21 outubro 2009

pausaação


(a inspiração deste post veio da minha amiga Silvia, que o publicou no blog dela, o vertências.)
Cai bem nesta semana de fluxo liberado quase inestancável.