26 dezembro 2009

nascendo/pondo o sol


Composição inspirada por sujeito da terra do sol nascente de frondosas cerejeiras.
Neste caso, o sol está se pondo pra nascer novamente...e eu também.

22 novembro 2009

rosa corpo cacho

papel reciclado e caneta esferográfica azul

Saiu um pedaço de mim pouco antes da aula da pós em dança começar.
São traços que vêm me acompanhando há uns seis meses já.
"Fica atenta que ele pode dar em alguma coisa", disse a mim meu amigo Bruno.
Estou atenta, Bru! E já vem dando resultados..

16 novembro 2009

não só esquerda e direita



não sinto só esquerda e direita..
espaços se formam em cima e embaixo, frente e trás, longe e perto, diagonais..
relações de poder pulverizadas nas relações humanas com a atual configuração provocando germinações esquizoides..
depois da kinesfera de Laban (que se parece com o desenho de Da Vinci, mas o complementa), a tridimensionalidade trouxe à tona lentes multifocais que habitam percepções casuais da realidade..não à toa, vários espetáculos da bienal de dança de Santos tabalhavam com câmeras e projeções de visões diferentes de uma mesma realidade..
sem óculos enxergo quase nada..um nada preenchido de energia.

(faltam representações menos hegemônicas de kinesfera, quem sabe um corpo feminino também no centro..vou ter que produzir alguma, não consegui encontrar na internet)

04 novembro 2009

Pra lá e pra cá?


Dezembro nem chegou e eu já ganhei um baita presente de natal >> Valeu, Helton, por ter colocado meu filhinho na rede!!
"Pra lá e pra cá?" foi feito em parceria com a Isabela Souto, em 2007, como projeto de conclusão do curso de Jornalismo - UFMS. Um suor que valeu a pena. Foi quando tive a oportunidade de chegar bem pertinho do caos e sentir os calafrios criativos de uma criação narrativa em mosaico.
É o meu orgulho até hoje, porque uniu elementos que me movem: a significação a partir do corpo inseridas na cotidianidade em forma de produto que pode difundir esse jeito de se ver a realidade e promover discussões sobre representações que norteiam milhares de atitudes, maneiras de ser e sentir.
Esse filho já aprontou poucas e boas em ambientes educacionais (e também no processo de elaboração e reelaboração >> encontros, desencontros, histórias pra contar). Que venham mais discussões!
O "elenco" é composto por crianças e adolescentes na época estudantes da OSCIP de arte-transformação social Casa de Ensaio (www.casadeensaio.org.br) e por especialistas nos estudos de relações de gênero, propondo diálogos entre o discurso científico e cotidiano.
A orientação foi do paciente, experiente e articulador Edson Silva, com grande ajuda e incentivo da professora Márcia Gomes, que sempre me inspira com sua sede por pesquisas aprofundadas e valorização das narrativas ficcionais, que hibridizam realidade, pois que em constante ressignificação pelo público e autores >> sem contar a simpática Daniela Auad, que me acolheu em minhas idas a São Paulo e que me inspirou por sua obra "educar meninas e meninos: relações de gênero na escola", por tratar de um tema complexo em uma linguagem acessível, sem deixá-lo, por isso, mais simplista. [[[puxa, não dá pra não falar da Lenira Rengel, que provocou surtos criativos com suas elaborações de teorias do procedimento metafórico do corpo, que relaciona movimento com processos cognitivos; e a professora Ana Maria Gomes, antiga lutadora das causas feministas, que em suas aulas de movimentos sociais e relações de gênero deixava aquele gostinho de indignação, que movia para a ação a favor e em contra]]]
Comentem! Vamos criar um diálogo por aqui também sobre as milhares de questões que as relações de gênero nos incita a discutir.

sinopse:
Como seria se seu corpo fosse diferente de como ele é hoje?
"Pra lá e pra cá?" faz esta pergunta e caminha rumo às diferenças anatômicas dos sexos feminino e masculino e descobre que as diferenças vão além do corpo estritamente físico. A biologia dialoga com a cultura em um trânsito permanente. Feminino e masculino são realmente separados? É um pra lá e outro pra cá?
Assista ao vídeo e tire suas próprias conclusões.

A arte da capa é do Fred Hildebrand (ilustrador muito talentoso, criador do mangá Patre Primordium - www.patreprimordium.com - e que nasceu no mesmo dia e maternidade que eu!). A foto é do Tiago Jordão e a diagramação e design digital é da Vanessa Azevedo, ex-vizinha talentosa também e super calma (conseguia quebrar meu stress pré-banca examinadora), que agora mora em Buenos Aires.

Abaixo vai o vídeo, mas se quiserem vê-lo maior vejam pelo http://www.youtube.com/watch?v=OJxQ_M5VINY

26 outubro 2009

Entre a arte e a técnica, dançar é esquecer

Por Thereza Rocha

Suponhamos um término de namoro temperado pelas brigas, mágoas, choros e promessas de – Nunca mais! – de costume. Suponhamos que sigamos o pedido de Eliseth Cardoso na canção, riscando o nome do ser amado do caderno, não suportando mais o inferno daquele amor fracassado. Ao fim de um tempo, o ser outrora amado, será definitiva e resolutamente apagado da memória – quase um defunto. Meses se passarão até que um dia trilhemos um caminhar fresco e novo pela rua andando sobre os passos da vitória. O burburinho dos passantes nos anima, parece combinar com o fôlego renovado de quem triunfou em esquecer. Nesta caminhada campeã, página virada do tal caderno, assim como quem não quer nada, passamos desavisados em frente a uma loja de perfumes e eis que lá de dentro alguém que experimentava o perfume do ser, outrora amado, deixa escapar aquele aroma dos infernos porta afora. É um átimo de segundo para que a pessoa inteira se materialize à nossa frente: a textura da pele, o som da voz, nossa! – eis o fantasma do passado a nos assediar novamente! O corpo não esquece jamais.

Trata-se aqui de um exemplo quase tosco se comparado à beleza e à nobreza das madeleines de Marcel Proust. Mas estamos sim a falar da memória e das lembranças. E de como no corpo, a memória não conhece o passado. A memória só conhece o presente. Do ponto de vista da memória, é sempre hoje, sempre agora. Para uma necessária distinção, aquilo a que comumente chamamos de memórias, receptáculos de passado, serão aqui para nós, chamadas de lembranças. As lembranças são representações do passado; modos como guardamos o passado como tal, como algo que já passou, em um dispositivo a que chamaremos aqui de arquivo, distinto portanto da memória. Pois a memória, segundo nossa perspectiva, é no corpo um motor – um motor de presente – sempre pronta a atualizar a lembrança, tornando-a atual, fazendo dela uma outra, uma outra, uma outra e assim sucessivamente. A memória dá à vida sempre uma nova chance. Do ponto de vista da memória, o passado nunca passou; o passado está sempre a passar, a se modificar. O passado é matéria plástica.

Ao lado da memória voluntária, a que supomos controlar, existe uma outra, tal como nos sugere Proust: a memória involuntária, sempre conjugando dados e acaso, vários dados, de modo quase gratuito, à revelia de nossa vontade e de nosso controle, produzindo assim o tempo – tempo presente – da experiência – tempo sempre a devir. Memória que necessita, entretanto, e paradoxalmente do esquecimento para poder lembrar. O esquecimento como combustível de uma memória sempre a trabalhar. Se lembrássemos tudo, todo o tempo, não nos lembraríamos, na verdade, de nada. É necessário esquecer. É impossível esquecer.

Capítulo 4 do artigo "Entre a arte e a técnica. Dançar é esquecer" de Thereza Rocha, professora do curso de Dança da UniverCidade, doutoranda em artes cênicas na UniRio e professora do curso de pós-gradação em dança da Universidade Católica Dom Bosco.

21 outubro 2009

pausaação


(a inspiração deste post veio da minha amiga Silvia, que o publicou no blog dela, o vertências.)
Cai bem nesta semana de fluxo liberado quase inestancável.

15 outubro 2009

vai saber?

depois do e-mail que recebi nesta madrugada, essa música começou a fazer muito sentido..

Não vá pensando que determinou
Sobre o que só o amor pode saber
Só porque disse que não me quer
Não quer dizer que não vá querer
Pois tudo o que se sabe do amor
É que ele gosta muito de mudar
E pode aparecer onde ninguém ousaria supor (...)

("Vai Saber?" - Composição: Adriana Calcanhotto/Interpretação: Marisa Monte)

14 outubro 2009

detetives do rio

ficou finalmente prontinho o vídeo da monografia da minha irmã :]
detetives do rio foi uma ilustração do projeto de pesquisa em educação ambiental que ela realizou no ano passado com crianças brasileiras e bolivianas integrantes do moinho cultural sul-americano (que oferece aulas de artes gratuitamente)
o resto ele fala por si.
as músicas são do grupo "palavra cantada", do álbum "pé com pé" >> o qual ainda sou apaixonada! (o conheci em 2007)
abaixo, vai ele inteirinho.

07 outubro 2009

devastava e fortalecia


"Esse vento chamado Pina Bausch mudou a paisagem do mundo com uma dança que demonstrava que as histórias individuais são sempre compartilhadas. (...)
A brutalidade do estancamento de sua sabedoria nos deixa órfãos de uma leitura de mundo que nos devastava e, ao mesmo tempo, nos fortalecia. Precisamos agora aprender a viver com essa tristeza para, mais adiante, descobrir o que poderá dela brotar."

A frase de Helena Katz - retirada de crítica sobre a temporada da Thanztheater Wuppertal no Brasil (parte usada no título do post) - me chamou pra escrever sobre minha vivência de duas semanas atrás.

Eram dois táxis apertados de sul-mato-grossenses à caminho do Teatro Alfa (SP) por um mesmo motivo: Pina Bausch.
Pela primeira vez ia ver de perto o que era pra mim quase um mito, inalcançável, que só via em vídeos do youtube e ouvia pessoas retratarem a experiência do encontro (alguns eram autoridades no assunto dança) sempre com ótimas referências. Uma unanimidade.
Essa foi a palavra que definia o fato de o Teatro ficar lotado de pessoas que a admiravam durante os cinco dias de apresentação, com ingressos esgotados com alguns meses de antecipação (cerca de 10.000 pessoas). E unanimidade é algo dificil de alcançar quando se trata de dança contemporânea.
Quando "Café Muller" começou - acredito que a obra mais divulgada da Cia - não conseguia relaxar e fruir o momento, a minha relação com a obra que acontecia. Ficava atenta ao que ela representava pra mim, minhas referências anteriores, ao que li das críticas ao seu trabalho..até que por um momento eu esqueci! (e esquecer aqui, significa experienciar)
A personagem de sapatos vermelhos entrou no palco, em ritmo acelerado e leve e aquilo me despertou pro momento presente.
No intervalo me pousei intacta sobre a cadeira digerindo o que havia presenciado. A segunda apresentação teve sabores ainda da primeira e a confusão de aromas me deixou um pouco indigesta. Foram momentos em que pude sentir o quanto o espectador não é passivo >> criava sentidos a todo momento e eram movimentos vigorosos de buscar um entedimento em conexões com minhas experiências anteriores.
Ainda estou digerindo e dançando (nos ensaios) tudo o que vivi naquelas 3h.
Foi a primeira vez que a Cia fazia uma temporada sem sua diretora.
Pina Bausch não estava presente em vida, mas em obra.

Pra conferir a crítica na íntegra clique aqui.

28 setembro 2009

muerta de hambre


"mi cuerpo es mi discurso. Espero que alguien me entienda"
trecho do livro da Fernanda Garcia Lao inteirinho na internet.
Continuando a sessão netbooks clique aqui pra acessar.

22 setembro 2009

poético metafórico

Me disseram: "Você deve ter facilidade pra escrever de maneira poética". Não foi a primeira pessoa que adjetivava assim a minha escrita.
Engraçado que nunca a vi assim e ainda não vejo.
Depois dos comentários fui perceber que realmente o caminho mais fácil pra mim são as metáforas, talvez por desde quando comecei a escrever (infância, adolescência) tentava esconder e botar em códigos o que escrevia, pra ninguém entender, porque meus sentimentos (sempre intensos) eram secretos >> achava que ninguém sentia daquele jeito.
Depois da necessidade (tenho um professor que diz que a criatividade só existe devido à necessidade) virou jeito legal e fácil de escrever.
Quando conheci o conceito de procedimento metafórico do corpo (desenvolvido pela estudiosa de corpo e dança, Lenira Rengel, atualmente professora da UFBA) comecei a pensar se esse estilo veio por uma facilidade de perceber meu corpo como uma coisa viva e que se mexe o tempo todo. Sempre tive problemas com a cristalização diária, a restrição de movimentos que acabam nos alienando. Das experiências corporais a que me permitia, podem ter vindo a facilidade em conectá-las com conceitos abstratos.
Vou tentar escrever mais objetivamente. Mas também vou tentar aprofundar este aspecto poético, metafórico. Quem sabe um dia consiga uni-los e isso também vire dança.

mapas descobertos

De repente tufões de mapas descobertos, começaram a fazer parte das minhas preocupações..Talvez porque esteja encontrando caminhos para entendê-los.

17 setembro 2009

sobre o livro "o corpo"

Pelo que venho entendendo das minhas leituras, que já foram várias de uma mesma linha rsrs (o livro parece um palimpsesto, que sempre que repito há algum entendimento novo que me havia escapado da leitura anterior) a teoria que elas propõe [no final do livro há um artigo intitulado "Por uma teoria do corpomídia" escrito pelas duas autoras] é a de um corpo encarado como processo de comiunicação em que há diálogos contínuos dele com o ambiente, entre biologia e cultura. Há uma percepção do corpo em movimento, não a coisa em si, como um objeto, mas o movimento, o processo pelo qual passa ininterruptamente.

Mas “como se dá o trânsito entre as informações do mundo e as informações do corpo?" perguntam elas no artigo “corpo e processos de comunicação”, escrito antes de ser publicado o livro, mas já na mesma linha de procura e descobertas. Trânsito vira uma palavra e ambiente importante para as buscas de quem não quer fazer ciência de objetos estáticos, mas de coisas vivas que se transformam no espaço e no tempo.

Como na frase escrita por Bauman, que elas deixam como parte do resumo do artigo, que coloca que para entender é preciso fazer um caminho diferente dos que estudam anatomias estáticas, em vez de estudá-las vivas, em movimento. >> “O que cabe à construção de epistemologias senão falar a nós o que não estava audível? Para consegui-lo devem se constituir de modo diferenciado ao das borboletas, “que não sobrevivem ao momento em que um alfinete lhes atravessa o corpo”.

Um livro que dá bastante pano pra manga, tanto para artistas cênicos como para quem se interessa por entender a fisicalidade e subjetividade concomitantes na existência.

16 setembro 2009

o corpo


Mais um livro na prateleira:
Encontrei o link do livro da Christine Greiner em que faz repassos históricos de concepção e conhecimento sobre o corpo humano, caminhando rumo à argumentação sobre a teoria que cria em conjunto com a filósofa pesquisadora de corpo Helena Katz, a teoria do corpomídia. O conjunto da obra indica pistas para estudos indisicplinares.
Clicando aqui, você pode ter acesso ao livro completo.

14 setembro 2009

a supremacia do movimento


A imagem é da capa do livro "The primacy of movement" todo da filósofa Maxime Sheets Johnstone, uma das fontes acessadas por Christine e Helena, no artigo "por uma teoria do corpomídia". É em inglês. Li apenas o que as pesquisadoras brasileiras falam da obra dela. Parece valer a pena!
Pesquisa a relação entre a dinâmica cinética da atividade corporal com a criação simbólica espontânea, que fazem parte do processo evolutivo dentro na comunicação. Movimentos metafóricos podem ser uma chave para o entendimento de tais criações de sentidos.
Clicaqui pra acessar a página com o conteúdo completo do livro.

10 setembro 2009

black bird

(caderno e caneta esferográfica preta)

resultado de uma das aulas de "atualização" na facul..

conceitos..direitos..ações?!

Pesquisando sobre pontos de cultura e sobre o Célio Turino (secretário de programas e projetos culturais do ministétio da cultura) na internet, acabei encontrando um site bem legal, o www.soylocoporti.org
A partir dele acessei blogs interessantes como o que me chamou a atenção pela discussão da democratização da comunicação - http://amarelo.soylocoporti.org.br
Discussão antiga, mas ainda válida. Um ambiente encarado tão subjetivamente como a comunicação, os produtos midiáticos, a expressão é condição também física e material tão necessária quanto o alimento, cuja ausência e repreensão pode gerar consequências graves. Também físicas, também subjetivas. Concessões federais deveriam ser dadas com maior diversidade, proporcionar diversos pontos de vista.

Fez-me lembrar de um projeto de implantação de um sistema de análise de produtos midiáticos com o selo de "qualidade da informação", quimera de um grupo de pesquisadores da Universidade de Barcelona, coordenado pelo professor Angel Bravo - que atualmente vive em Campo Grande - MS, devido a um programa de intercâmbio com a Universidade Federal do estado. Tentam encarar a comunicação como algo físico, para definir parâmetros objetivos de avaliação..A princípio me pareceu uma lâmina de censura, mas o fato de chamarem a atenção para as objetividades dentro da informação já me é interessante - ajuda a não cair em mares de relatividades. Definir limites é necessário.
Este projeto estaria relacionado ao sistema de democratização da informação pelo fato de proporcionar ao leitor parâmetros de escolha.

Abaixo vou deixar o vídeo sobre a semana nacional pela democratização da comunicação em Curitiba. Como um happening, instigam pessoas que passam pelo centro da cidade a falarem e refletirem sobre esses tais conceitos que remexem tanto nosso cotidiano.

09 setembro 2009

ausencia

Coincidência ou não, esse foi o poema que tirei para ler, ao lado daquele que agora me é ausente. Me faz falta.

Habré de levantar la vasta vida
que aún ahora es tu espejo:
cada mañana habré de reconstruirla.
Desde que te alejaste,
cuántos lugares se han tornado vanos
y sin sentido, iguales
a luces en el día.
Tardes que fueron nicho de tu imagen,
músicas en que siempre me aguardabas,
palabras de aquel tiempo,
yo tendré que quebrarlas con mis manos.
¿En qué hondonada esconderé mi alma
para que no vea tu ausencia
que como un sol terrible, sin ocaso,
brilla definitiva y despiadada?
Tu ausencia me rodea
como la cuerda a la garganta,
el mar al que se hunde.

(Jorge Luis Borges)

05 agosto 2009

A memória inventa a madeira, a madeira inventa a memória

- O que é isso?

- Dá a sua mão.

- Epa! O que você vai fazer?

- (risos) Esse aqui é palmatória, do tempo da escravidão. E sabe esse furinho, no meio, pra quê que serve? Pra doer mais.

Brincalhão, seu João Manoel me mostra a réplica que ele mesmo fez do instrumento que o maltratava nos tempos de escola, em que os alunos “ruins” recebiam palmadas na mão, vindas da professora. “E sabe quanto tempo eu estudei? Seis meses.”

Pode ter sido uma forma racionalmente velada de proteger as mãos (preciosas atualmente), mas certo é que seu João nunca se esqueceu de que para aprender, havia de ter muita atenção.

Com seu pai, marceneiro alagoano, não foi diferente: "No tempo da escravidão era assim. Meu pai não me ensinava a trabalhar a madeira. Eu via ele trabalhar e quando ele saía eu ficava tentando fazer igual."

Passados quase quarenta anos, recém-saído da "roça" pantaneira e morando na Campo Grande dos anos 1970, João Manoel da Silva, começou a criar animais em madeira para passar o tempo da rotina de guarda-noturno.

O passa-tempo foi virando profissão e a sombra do pé de laranja, da rua Abrão Júlio Rahe, 2708, virou a oficina onde suas idéias iam tomando corpo na madeira, resultado da interação dos movimentos das mãos e braços, intermediados por diversas ferramentas, que como ele mesmo diz “não são elétricas. Por isso que eu sou artesão tradicional”.

Tuiuius, onças, jacarés, pássaros...Errando, criando e aprendendo, chegou ao carro-de-boi, que para ele é “o símbolo de Campo Grande” e que o fez um artesão reconhecido: já recebeu prêmio de melhor artesão de Mato Grosso do Sul, em 1991, vende seu trabalho para vários países e “tem uma peça minha na novela Pantanal, mas nunca recebi nada por isso.” Sua última surpresa foi ver sua foto, história e trabalho impressos em um livro, na condição de um dos representantes do artesanato sul-mato-grossense. O livro foi lançado em agosto deste ano e mapeia o artesanato de todo o Brasil (“Em nome do autor”, Beth Lima e Valfrido Lima, 2008).

Seu trabalho não se assemelha a trabalho algum. Sua arte reelabora o que ele vê no “real”, colocando dedos de sua própria identidade nos personagens em madeira, como o tuiuiú com formas humanas (que já foi usado como troféu para artistas sul-mato-grossenses). Postura curvada, o bico pressionando o tronco, olhar cabisbaixo e ao mesmo tempo altivo, como quem se defende de um mundo urbanizado.

Sozinho, aprendeu a criar sua singularidade e acredita que sua arte não vá morrer consigo. O conhecimento que passa adiante, para sua neta e sobrinho, diferente de sua experiência, é ensinado com carinho e cuidado, sem brechas para “estupidez” ou palmatórias.

(perfil de João Manoel da Silva - artesão sul-mato-grossense - publicado na revista Cultura em MS em 2008)

29 julho 2009

galanteadores

Acho um barato a letra desse samba.
Lembrou-me um senhorzinho galanteador que conheci há dois dias atrás.
Sorte nossa que a Marisa Monte, Arnaldo Antunes e o Cézar Mendes conseguem colocar em palavras o que a gente geralmente sente aquecer a carne..

Eu só não te convido pra dançar, porque quero falar com você em particular.
Há tempos tento encontrar um bom momento, alguma ocasião propícia, pra que eu possa tocar suas mãos e olhar nos olhos teus.

Seria bom quatro paredes, eu, você e Deus.
Procuro explicar meus sentimentos, só consigo encontrar palavras que não existem no dicionário.

Você podia entender meu vocabulário, decifrar meus sinais, seria bom.

(Quatro paredes)

24 julho 2009

meu queixo e meus pés



Nadando nas piscinas do São Carlos Clube eu não me contentava em só explorar os fundos da piscina e sentir a respiração ficar diferente depois de muito tempo embaixo d’água. Na época eu tinha uns 9 anos de idade. Uma amiga e eu fomos para a piscina das crianças ultrapassar os limites da gravidade e tentar fazer bananeiras com as pernas no ar e a cabeça na água. Foi numa dessas tentativas que eu escorreguei e caí com o queixo no fundo da piscina com todo o peso do meu corpo em cima dele. O sangue começou a diluir no cloro da água e aí que fui perceber que havia alguma coisa errada. Enquanto esperava assustada a mãe da minha amiga me dar assistência, meu irmão chorava por mim do meu lado sentado no mesmo banco que eu. Isso foi no início do ano.
Depois de uns dois meses de iniciadas as aulas na escola, num final de semana ensolarado meu pai, inspirado pelo dia lindo que se abria lá fora, decidiu nos levar (meu irmão e eu) a um clube afastado da cidade, com campos abertos e quadras esportivas. Eu pensava que tinha talento pra tudo, mas esporte era uma coisa que me surpreendia sempre. Fui aprender a jogar futebol pra arrasar meu irmão no gol, mas na minha primeira lição - chutar a bola sentido ao gol - senti que uma parte do meu pé já não estava ligada ao resto do corpo. Eu trinquei o pé direito chutando a bola e o resultado disso foram 40 dias com ele engessado. Eu só pensava em como eu ia conseguir ensaiar para a apresentação do dia dos pais na escola. Dança já era pra mim uma coisa séria.
Novamente no mesmo ano, só que já no segundo semestre, fui tentar superar minhas dificuldades no esporte, porque não achava possível não conseguir competir nesse campo com meus amigos. Dessa vez, jogando basquete, miro o ponto do muro que havíamos definido para ser a cesta, dou um salto dos mais altos que já havia conseguido dar e quando volto ao chão, meu pé direito não reponde bem aos estímulos anatômicos e toca o chão não com a sola, mas com a parte lateral direita. Caio com o pé “dobrado” no chão. Tenho que agüentar a dor da queda e as gracinhas dos meus adversários por não perceber que estava numa posição desconcertante e minha calcinha estava aparecendo! Tinha 9 anos e acho que, naquele momento, comecei a alimentar a minha raiva pelo "sexo oposto". Por que eles simplesmente não me ajudaram?!?
No final do ano os médicos já colocavam em mim um colete protetor contra os raios X, tamanha havia sido a quantidade de vezes que tive que registrar fotos do interior dos meus ossos. Na escola era conhecida como a garota que se quebrava toda e desisti de superar limites com esporte. Decidi investir na dança.

15 julho 2009

apé

03 julho 2009

perda doída

Há dias estou ensaiando uma maneira de expressar uma perda doída que ocorreu na semana retrasada..Vamos ver se dessa vez eu consigo..

Lembro que me pediram pra pesquisar o significado do meu nome, sua história, seus porquês...esse som que se confunde com a idéia que faço de mim mesma.
Quando expus os resultados da pesquisa, vieram olhos borbulhando conexões, impressionados com a quantidade de gerações em que meu nome se repetia. Essa repetição poderia ser o foco do meu movimento que deveria se iniciar pela escápula e desenvolver-se em um caminho estreito, reto, “sem quebrar nenhum limite!”.
Depois de algumas horas, dias, tentativas, fui lá eu mostrar o que acreditava que poderia me representar em movimento. Eu podia usar a voz.
“Faça a sequência toda aí, onde você está.”
Pronto. Perdi minha liberdade de deslocamento. Estou de frente para o público, protegida apenas pela minha miopia.
“Fale mais vezes. Muitas mais!”
As repetições agonizavam. Queria fazer mais forte cada vez que repetia. E os olhares para traz, para todas as gerações que me acompanhavam se tornavam claramente presentes diante das minhas costas.
Pude gritar quantas vezes quisesse aqueles nomes que me queriam dizer quem era ou deveria ser.
Engraçado que justo antes daquele encontro eu havia decidido me priorizar.
A descoberta já foi dançada para uma platéia e pretendo que seja fruída por mais gente.
Sempre que a interpretar não vão ser mais apenas meus antepassados a me rodear. Ele também vai estar com aquela energia que me aquecia e me fazia acreditar enquanto indivíduo ativo.
Uma pessoa assim não dá pra esquecer. E não dá pra deixar de se aproximar.
Os discursos, as expressões, a nitidez em não hesitar em dizer sua opinião, de corrigir sem confrontar ou desprezar, de dizer que tudo precisa de um início e um fim sem que você consiga discordar e “tome decisões, feche o universo de movimento, que depois você vai ver que vai jogar muita coisa fora” e isso vale também pros meus textos.. Seus movimentos curtos e súbitos logo se tornavam leves e flutuantes na memória de quem o vivenciou.

Naquele encontro usei a voz, mas vou guardá-la nesses minutos em sua homenagem.
A roupa é elegante, porque esse prof era muito chique..

(homenagem a Roberto Pereira – foi crítico de dança do Jornal do Brasil, coordenador do curso de dança da UniverCidade, ex-professor da pós-graduação em dança na UCDB e pessoa graciosa que coordenou, junto com Esther Weitzman um curso especial de investigações coreográficas em abril deste ano. Se foi em 21 de junho de 2009.)

29 junho 2009

milagre de São João



São João Batista protegido por divindades diversas em um terreiro de umbanda.

Esse "andor" (como é chamada a base móvel onde o santuário é elaborado) foi da tia do Pedro Paulo, aquele ali em cima, ao lado das imagens que o protegem desde o seus 2 meses de idade. Radialista, nascido em Corumbá em 1965 (como diria minha amiga Patrícia: o mesmo ano em que se iniciou a guerra do Vietnã e considerado ano da cooperação mundial pelo ONU), Pedro Paulo teve a sorte de ter uma mãe sensível às sincronicidades do destino.

Neste mesmo ano, com o filho de apenas dois meses no colo, Dona Carlinda acompanhada de seu marido saíram desacreditados do hospital, com a previsão de que nada poderia ser feito para salvar seu filho da morte.

Sua tia o lavava para colocá-lo no caixão. Já não se mexia, não apresentava sinais vitais. Nesse momento sua mãe ouviu a procissão que passava na esquina ao lado da casa, descendo as ruas cantarolando as ladainhas de São João, para lavá-lo nas águas do rio Paraguai.

Correu até o santo, parou a procissão por alguns instantes e pedia chorando, com toda a sua energia, que seu filho retornasse à vida, que ainda não era o seu momento de "desencarnar". Dona Carlinda sensibilizou a todos os fiéis. Uma mulher de fibra, cuidava dos filhos, arrumava e administrava o lar, coordenava o centro de Umbanda em frente à sua casa para reunir pessoas no exercício da fé ao encontrar-se com aspectos do desconhecido, descendia da etnia Guató e encarnava um índio da Amazônia (logo atrás de são João, com uma estrela estendida nas mãos), considerado da linhagem dos Oxossi.

Aos prantos, no momento em que a procissão se apropriava das preces de Dona Carlinda, também chegou sua irmã, a tia de Pedro Paulo, trazendo-lhes a notícia de que o filho voltara a viver. Chorava também!

O milagre foi agradecido com a promessa de sete anos de festa para louvar e lavar o santo milagroso próximo às ladeiras do Porto Geral. E os sete anos já se completam 44, desde que o milagre aconteceu.

A família, que passava em frente à casa dos Macedo, vinha de Cuiabá e já não mora mais na vizinhança. Descendem de portugueses, como tantos outros que se instalaram nas regiões platinas e se miscigenaram com a população local.

Desde que Pedro Paulo voltou a viver, e que se entende por gente, participa e, agora, organiza a festa que já se tornou tradição na vizinhança.

Cada um se encarrega de algum ofício para a festa acontecer: montagem das barracas, bebidas, comidas, doces, danças (quadrilhas), enfim. Uma festa que é feita em conjunto, cada um levando uma parte, e que sempre dá certo.

Pelo menos uma vez no ano é certo que todos farão a sua parte para fazer valer a tradição.
Assim como São João Batista banhava os fiéis, e Jesus Cristo, nas águas do rio Jordão para batizá-los, assim os corumbaenses o fazem para reciclar suas fés.

Claro, regados a muita bebida!

Uma festa santa que inclui o mundo terreno, sem pudores, sem ter de esconder o lado humano para falar de uma santidade que só o humano teria a capacidade de criar.

Há dez anos Dona Carlinda se juntou aos seus ascendentes Guató e ainda a festa continua quente lá no bairro Monte Castelo “ali depois da subidinha”, me explicam os vizinhos. Pedro Paulo e sua família já se apropriaram da responsabilidade de fazê-la acontecer, com as preces no centro de umbanda que precedem a descida do santo até o Porto Geral.

Além da festa, a memória deste acontecimento extraordinário é cada ano ressignificada por todos que ali participam de alguma forma, mas o nome do arraial não muda: arraial da dona Carlinda, assim como tantos que Corumbá concentra como da dona Ivone, dona Titina, dona Cassilda, ...
Mulheres assim continuam a germinar sabedoria através do séculos e das gerações.

28 junho 2009

navegando sem cais

Puta cena linda e só.
A luz se acabou e a banda continuou a tocar.
As pessoas se foram, os instrumentos estavam lá.
A esperança se perdeu, o mundo não parou de girar.
Considerou-se fadada a desaparecer, mas insistentes provaram que vale a pena viver bem perto dela.
"Vai sem paz, sem ter um porto, quase morto sem um cais (...) a solidão deixa o coração neste leva e traz".

Cenário virtual

As paredes da ladeira Cunha e Cruz ficaram enfeitadas virtualmente pela tecnologia antiga da sombra.
Cenário genial pra sentir e pensar a fé, a festa, a vida, o tempo, a dor e o espaço..

13 junho 2009

vou dar um bordejo lá em Porto Alegre



Vou dar um bordejo lá em Porto Alegre
Pra ver a coisa como ela acontece

As imagens são de um show como o de ontem, onde/quando fui curtir música, companhias malucas bem vestidas e bem intencionadas, bebidas destiladas, fermentadas, doces e salgadas..
Bitucas de cigarro eram os únicos obstáculos que meus pés encontravam no chão.
Falava-se e ouvia-se só de bem de perto.

Em uma descrição mais técnica da cena, as palavras estariam dispostas assim:
Os corpos se movimentam estimulando a faringe ao consumirem constantemente ao longo de toda a festa bebidas alcoólicas e fumaças de nicotina e marijuana. A cinética dos corpos se concentra em uma kinesfera individual, sem deslocamentos espaciais. Durante as performances individuais marcadas pelo início e fim de cada música, a cinética do movimento encontra-se especialmente na transferência de peso de uma perna para a outra, nos braços que socam ou pontuam o ar, no tronco, cabeça e ombros que se movimentam para frente e para trás e oscilando entre os lados direito e esquerdo, o flexionar das pernas para marcar o ritmo da música e os braços apontando para o teto quando se ouve uma música que agrada muito. Os quadris são acionados especialmente pelas mulheres. Os homens mantêm a postura ereta, transferem os pesos de uma perna para a outra com a bacia quase estática.

A música é da banda Dimitri Pellz, daqui de Campo (http://www.myspace.com/dimitripellz). Sempre que os assisto me sinto como em um ritual de catarse do qual saio mais leve. Em todo momento de querer gritar e sair correndo deveria existir um show do Dimitri. Acho que seríamos menos tensos, mais felizes..

30 maio 2009

Her morning elegance

Vídeodança israelense com música de Oren Lavie.
Sutil, com densidade que me conforta.


26 maio 2009

Quixotesca

Meus sonhos sempre me despertam pra realidade.
Somos peças criativas suspensas no chão.

20 maio 2009

vício torpe

Eu dava tapas pra ver se ela deixava de voltar, mas ela sempre no dia seguinte me ligava dizendo que queria me ver. E cada vez que vinha recebia estapadas em lugares diferentes, umas homéricas outras mais leves, com dó, até esgotar as chances de despertá-la de seu vício comportamental, cegueira torpe de si. 
Dentre as incomepetências que a contaminavam, a simples incerteza lhe limitava sentir e expressar amor ou qualquer sentimento humano menos importante.
Assumir provocava-lhe consumo de suas propriedades humanas construídas envoltas de bolha suja de sabão cremoso. 
Um dia resolveu não voltar. Sumiu da minha fúria. E meu desejo também se foi. 

06 maio 2009

Folkotidiano

Ultimamente venho me identificando com algumas frases que me soavam bastante externas como “gosto não se discute”, “há males que vem para o bem” ou “não coloque o carro na frente dos bois”. Ouvia as pessoas dizerem, mas eu mesma nunca os repetia, a não ser quando queria fazer referência satírica às frases que, aparentemente, são repetidas ao longo de gerações como que por osmose. Eu, artista da contemporaneidade, mantinha o meu “papel” de preservar a diferença e negar a tradição. Certo é que incorporei cargas históricas da sociedade que integro, ou ela que me engoliu, porque essas sabedorias vêm me fazendo um “baita” sentido, à medida que vou me deparando com algumas dificuldades e descobertas da vida adulta.

Será que aprendê-las e incorporá-las é um dos pré-requisitos da entrada real à vida adulta e determina o reconhecimento dos outros sobre nós enquanto gente? Quantas pessoas ao se tornarem pais ou mães repetem canções de ninar que seus avós e bisavós também cantavam para novos integrantes da família, ou já “deram uma banana” com aquele gesto que acompanha a ação para alguém que o incomodou, ou se deu o privilégio de rir “à toa”? 

Todos esses exemplos são manifestações do folclore que não faz parte de um tempo pretérito, que não está extinto ou localizado nas florestas como o saci-pererê ou como o mãozão das matas da Nhecolândia. Eles são vivenciadas todos os dias, em diversas esferas da vida cotidiana e são atuais, como explica Barreto, em citação de Marlei:
“...O povo não foi, o povo é (...) Toda vez que se dá maior importância ao passado, nos moldes da cultura folclórica, se aliena o próprio povo da realidade. E não há maior mal de afastar a comunidade de sua própria experiência, de seus contatos, de sua participação.” (BARRETO in SIGRIST, 2000, p. 29)

As frases feitas, ditados populares, locuções tradicionais são exemplos de como o folclore  é vivo tanto no meio rural como na cidade e é ressignificado por meios de comunicação de massa, por livros didáticos, além de ser repassado pelo tradicional boca-a-boca. 

Assim como frases, os gestos, a corporeidade e a maneira como nos movimentamos cotidianamente (ou também em festas) o nosso corpo está relacionada às referências familiares ou às pessoas de estreita e constante convivência, como amigos, familiares, namorado, colegas de trabalho, etc. No que tange ao universo corporal, parece-me mais difícil barrar incorporações, até mesmo porque não aprendemos a racionalizar este tipo de aprendizado, por mais que soframos interferências de educações do tipo “etiqueta” para regras de usos do corpo em espaços públicos ou para padronizar comportamentos em determinados locais e tempos. E meu, como é difícil admitir e perceber que me gesticulo como a minha mãe, minha entonação para perguntas e o tom da voz são idênticos aos da minha irmã, ando e me porto durante as refeições do jeitinho que meu pai também convencionou se comportar.

Nesse contexto é difícil delinear contornos de origens espaço-temporais deste conhecimento e dos processos de educação e comunicação, mas estes fatores indicam que a cultura popular (transmitida sem o artifício de tecnologias de informação e sem sistematização racional) está presente na formação de indivíduos e na maneira de se relacionarem com fenômenos de seu ambiente. 

Fontes de idéias:
BARBERO, Jesús Martin. Dos meios às mediações. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2005.
CASCUDO, Luís da Câmara. Locuções tradicionais no Brasil. São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 1986.
SIGRIST, Marlei. Chão batido – a cultura popular de Mato Grosso do Sul, folclore e tradição. Campo Grande, MS: Ed. UFMS, 2000.
Site Reporter Net. Dez ditados populares e seus significados. Acessado em 4 de maio de 2009. http://www.reporternet.jor.br/10-ditados-populares-e-seus-significados/

23 abril 2009

Silêncio preto

Em vez de ruído branco, vivencio agora o silêncio preto.
Não é o silêncio lento, do trovador cheio de estrelas, que canta o Tom reverenciando Luiza.
É silêncio preto de suspensão sem perscpectivas e que faz guiar cegamente.
Em vez de mar de leite, meu ensaio vivo desta cegueira momentânea faz movimento de desfocar, desfocar, desfocar, até perder a luz, e ficar o breu.
Breu intuitivo que desperta papilas gustativas, o tato e a audição. 
Desperta também facilmente qualquer tipo de manifestação sentimental mais rigorosa que, por hora, tento evitar expressar.
Silêncio em si, em sol, em dó.
De mim, do outro, de nós.
Silêncio de entender que a vida é uma representação constante e contínua e que nada ou tudo podem fazer sentido, mas o sentido está agora longe de se fazer nítido nas dunas da escuridão.

14 abril 2009

Encarnação [corponectividade]

"Capturadas [as informações] pelo nosso processo perceptivo que as reconstrói com as perdas habituais a qualquer processo de transmissão, tais informações passam a fazer parte do corpo de uma maneira bem singular: são transformadas em corpo."
(Katz e Greiner, p. 130 - artigo publicado no livro "O corpo" de Christine Greiner)

13 abril 2009

Criamundo

Dois criantes investidos de corpos abertos*

*única concretude diante do plasmazer estrutrante do toque que provoca, amacia e entorpece o vão que provém do sólido visível.

11 abril 2009

Antes de suportar o contato

Poema bem antigo..de 2005.

Mundo frágil
De isopor e creolina
Figurado pela transparência 
de um objeto que oculta a liquidez de sua origem

as fibras chegam a ranger os dentes que espetam.
as bolhas são destruídas 
a violência do bico de um beija-flor
seca a pele de couro da rachadura
sem vestir nem viver

Vazão.
Haste da vantagem de se desprender
a condição inicial de conviver
a síncope da traição.
Reverência ao inconstituível.

Sem lugar e sem controle
A vida cresce na seringueira movediça
Atolada na lama do ressentimento
Do ideal inalcançável de beleza 
De humildade
E ignorância

Vingativo
Vulnerável
Insuportável
Irresistível

Crueldade realista 
Ou se move pelo desejo
Ou se é movido por ele.
Difícil distinguir:
realidade e fantasia
diabo satânico e pura humanidade
verdade e agressividade
a cor do céu quando se está apaixonada. 

Sem vestir nem viver
Esconder seria uma arte
Não se importar
Se fechar para o mundo e suas idiossincrasias alienantes
Dividir o indivisível
Costurar os cacos de compaixão
De auto-estima
E sorrir

E onde estão os pés?!
Embolados em uma borracha com tecido.
Ou acrílico, madeira, ferro, isopor...
Se esconder seria uma arte!?
Pois o sapato seria uma solução!

ELO
Escancarar
ver e enxergar
sem colocá-lo na divinição

A tristeza não é uma forma de egoísmo!
Simplesmente vai e vem como os pés no chão
Que precisam se mover com seus movimentos inconscientes
Pra PODER andar.

06 abril 2009

pensamentos


da escada, o mar (continuação)

- Não consigo soltar o que me prende.
- Apenas puxe!
- Não estou falando das minhas pernas.
- Então a areia lhe segura o quê?
- Tenho uma sensação incômoda de insegurança em relação aos meus pés. 
Sem tocá-los no chão, sentia a gravidade pesar sobre a planta e os dedos desmotivando-os a andar.
- A insegurança está na areia e não nos seus pés. Concentre-se. O mar está prestes a se quebrar.
- O que insiro do mundo em mim, ao mundo não volta. Estou trancada em meu próprio corpo.

da escada, o mar


As duas desciam rapidamente as escadas feitas de pedras, terra de um marrom escuro e pequenas gramíneas. 
Uma delas vascilou entre um degrau e outro. Sabia que não estavam indo no sentido correto.
No final (ou no início) não havia nada além de areia: prefácio de um mar razo, claro, sem sal..
Sentia que a qualquer momento aquele quase lago mostraria sua ira sobrehumana e aí seria tarde demais para procurar qualquer saída. Os degraus eram muitos para proporcionar uma fuga ligeira.
Mas era isso o que ele queria.
Pensava que havia sido muito ingênua em se deixar levar por um pedido póstumo do amante de sua irmã. Em vez de ajudá-la, estaria levando-a para o fim de sua linha tenra que poderia, porém, significar o reencontro com o desconhecido mais recorrente de suas lembranças amorosas. 

31 março 2009

formigamentos


Nossa..
A semana começou aterrorizante.
Quanto mais o tempo passa, mais eu sinto falta do toque, da voz, do carinho..
Credo..
Quanto mais o tempo passa, mais eu vejo que não recorria a ninguém a não ser "ele" para compartilhar angústias, dúvidas, decisões, alegrias, afetos..
Isso é bom?
Isso é ruim?
Meu copo de sorvete me consola..mas ele fala a língua das formigas e dos formigamentos no intestino. Não fala a mim como eu gostaria de ouvir.
Conheci uma pessoa legal hoje. Conversamos a tarde toda e fiquei pensando se poderia ser uma nova amiga..
Lembrei de ti que voltou a se ver em ambientes de tatuagens..
No caso dela é uma loja de bugigangas que considerei primordiais..
Vamos passear??
O desejo se manifesta assim em mim..
A razão manda esperar... 

26 fevereiro 2009

18 fevereiro 2009